Viplan (quero novidade) operava com ônibus piratas

O empresário Wagner Canhedo manteve cerca de 900 ônibus em operação, apesar de ter autorização para apenas 744: concorrentes não tinham conhecimento da ilegalidade da Viplan
As empresas de transporte coletivo da família de Wagner Canhedo Filho vinham fazendo pirateamento de linhas mesmo depois que as novas concessionárias começaram a operar. Apesar de ter autorização para circular com menos de 750 veículos, o grupo continuava operando com mais de 900 ônibus com o objetivo de retirar receita das concorrentes. A fraude foi descoberta esta semana após a intervenção do Governo do Distrito Federal (GDF) na Viação Planalto (Viplan), Lotáxi e Condor. O poder público assumiu a gestão das firmas na última segunda-feira depois de constatar que Canhedo passou a dificultar a entrada dos operadores que venceram a licitação feita em 2012.

Juntas, as três empresas da família detinham mais de 30% de todo o mercado de transporte coletivo da capital federal. Elas operavam praticamente em todo o Distrito Federal, tanto que tinham garagens localizadas no Guará (sede central), Sobradinho, Gama, Santa Maria e Samambaia. No auge da operação, contabilizava o controle de 288 linhas e possuía 965 ônibus em circulação. Conforme as novas concessionárias foram entrando no mercado (São José, Pioneira e Piracicabana), era para a Viplan e suas parceiras terem saído de 74 linhas e retirado 221 ônibus das ruas. Mas não foi bem isso que aconteceu.

“Assim que passamos a responder pela gestão das empresas do Canhedo, descobrimos que ele continuou atuando de forma pirata em várias linhas. Ele tinha autorização para rodar com 744 ônibus, mas estava com mais de 950 em trânsito. Com isso, impactava no faturamento dos outros grupos”, contou o secretário de Transportes do DF, José Walter Vazquez Filho, ontem durante a entrega de mais 102 novos ônibus que vão se integrar ao serviço de transporte coletivo de Brasília. As novas concessionárias não chegaram a fazer reclamação formal sobre a situação porque nem sequer tinham conhecimento da concorrência ilegal por ainda estarem se ajustando ao novo modelo.


Dificuldades
O secretário reconhece que a situação toda ocorreu devido às dificuldades de controle e fiscalização por parte do poder público. “Brasília vivia com a situação de ter o transporte coletivo há mais de 40 anos funcionando sem concorrência pública. Por mais que tentássemos controlar, era difícil. Justamente por isso trabalhamos tanto para conseguir licitar todas as linhas. A partir de agora, o Governo do DF passa a ter o controle de toda a gestão do sistema em suas mãos. Poderemos planejar e fiscalizar”, acrescenta Vazquez.

Até ontem, a Sociedade de Transportes Coletiva de Brasília (TCB), que está cuidando da gestão do grupo Canhedo, já tinha conseguido concluir mais de 300 rescisões de contrato com funcionários. A expectativa é de que, até a próxima semana, já tenham sido fechados cerca de mil acertos trabalhistas e consequentes recontratações pelas novas empresas. O Correio não conseguiu contato com Wagner Canhedo Filho ontem para que ele comentasse o assunto.

Ontem, o número de novos ônibus atingiu a marca de 1.032. Do total, cerca de 800 ainda estão parados, aguardando o momento de começarem a circular. O governador Agnelo Queiroz (PT), que participou da entrega de102 veículos pertencentes à Urbi (consórcio HP/Ita) e Marechal, destacou que essas duas últimas empresas começam a operar ainda este ano. “Com as três que já estavam em operação, completamos as responsáveis pelas novas cinco bacias já trabalhando em 2013. É um grande avanço e demonstra claramente que a nossa decisão de licitar todo o sistema foi acertada. Agora, vamos trabalhar no sentido de melhorar a qualidade do serviço”, disse, enquanto andava em um dos novos veículos entre a Estrada Parque Taguatinga e o terminal do Núcleo Bandeirante.

Renovação
O governador destacou que até fevereiro toda a frota velha deve ser retirada das ruas da capital e substituída por 2.630 ônibus das novas empresas que vão operar as bacias 1 (Piracicabana), 2 (Pioneira), 3 (Urbi), 4 (Marechal) e 5 (São José). A primeira região que deverá ter todo o sistema renovado será atendida pela Piracicabana, onde os mais de 400 veículos vão fechar o ano já sob responsabilidade dessa concessionária. A base principal de operação da companhia é a Saída Norte do Distrito Federal (ver quadro). “A Piracicabana vai poder assumir a área com 100% da atividade porque a Viplan ainda circulava em algumas linhas lá e, com a nossa ação, retiramos os ônibus do Canhedo. Agora, o novo operador fica responsável”, complementa o secretário de transportes.

Novo sistema
Bacia 1

Brasília, Sobradinho, Planaltina, Cruzeiro, Sobradinho 2, Lago Norte, Sudoeste/Octogonal, 

Varjão e Fercal

Frota*: 417 veículos
Operador: Viação Piracicabana

Bacia 2

Gama, Paranoá, Santa Maria, São Sebastião, Candangolândia, Lago Sul, Park Way (parte), Jardim Botânico e Itapoã

Frota: 640 veículos

Operador: Viação Pioneira

Bacia 3

Frota: 483 veículos

Operador: Urbi (Consórcio HP/Ita)


Bacia 4

Taguatinga (parte), Ceilândia, Guará, Águas Claras e Park Way (parte)

Frota: 464 veículos

Operador: Viação Marechal

Bacia 5

Taguatinga (parte), Brazlândia, Ceilândia, SIA, SCIA/Estrutural e Vicente Pires

Frota: 576 veículos

Operador: Expresso São José
*A frota está distribuída em ônibus articulados, convencionais e 

micro-ônibus, que vão operar em corredores exclusivos, linhas de ligação entre cidades e linhas alimentadoras.

Memória
Problemas com a Justiça

Um dia dona de um verdadeiro império dos transportes, a família Canhedo testemunhou o prestígio dos negócios cair na mesma proporção do acúmulo de dívidas. Hoje, estima-se que somente a Vasp, companhia aérea que teve a falência decretada em 2008, deva algo em torno de R$ 5 bilhões, sendo R$ 1 bilhão relacionado ao passivo trabalhista. A Previdência Social espera receber R$ 35 milhões em tributos atrasados. Pelo calote, Wagner Canhedo ficou preso durante 30 horas em 2004. Em função dos débitos, a Justiça tomou da família a Fazenda Piratininga, avaliada em R$ 500 milhões, e repassou aos funcionários da empresa como garantia de pagamento. 

De acordo com a acusação, a direção da Vasp recolhia as contribuições trabalhistas, mas não depositava. A mesma prática, segundo a Justiça do DF, foi implantada por Wagner Canhedo Filho, principal herdeiro do ex-dono da Vasp, em seus negócios na capital do país. Canhedo Filho é dono do Hotel Nacional e preside o grupo Viplan. 

Em maio de 2008, ele chegou a ser preso pela Delegacia de Capturas e Polícia Interestadual após descumprir decisão da 1ª Vara do Trabalho do Distrito Federal que exigia o pagamento de 30% do faturamento do Hotel Nacional para cobrir dívidas trabalhistas. Antes, em 2007, ele foi condenado a um mês de prisão pelo Juizado Especial Criminal de Justiça do DF por se recusar a vender passes escolares.

Via: Correio Braziliense

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