Transporte público: será que vai mesmo mudar?



Hoje, 13 empresas são responsáveis pelo transporte público do Distrito Federal. Após a licitação para um prometido novo e moderno serviço, serão apenas cinco. Tudo bem até aí. O problema são as várias  suspeitas de fraude no certame. Uma série de reportagens do Jornal de Brasília vem mostrando ao longo das últimas semanas as supostas irregularidades na concorrência pública que elegeu as ganhadoras das cinco bacias, avaliadas em R$ 8 bilhões no total. Com tantas suspeitas vindo à tona,  a população se questiona sobre a possibilidade de “trocar seis por meia dúzia”.

Sem muita expectativa de que o sistema melhore, muitos rodoviários reclamam da falta de transparência na licitação. Eles afirmaram à reportagem que os jornais sabem mais do que eles. Além disso, demonstraram total insatisfação com os veículos que rodam pela cidade.  “Os ônibus realmente estão sucateados, difíceis de dirigir. É uma pressão trabalhar assim”, confessou o motorista da Pioneira Roberto Luiz, 48 anos. 

Cerca de um milhão de pessoas dependem dos ônibus diariamente, segundo a Setrans. Conforme números oficiais  de 2012, a frota é composta por 2.851 ônibus e micro-ônibus em 1.012 linhas, além de 103 veículos na zona rural em 92 linhas. Foram registradas 14.388 autuações por irregularidades no ano passado, em 23.226 vistorias.

O péssimo estado de conservação dos ônibus foi registrado pela reportagem. São bancos quebrados, painéis sem botões necessários para o bom funcionamento dos carros, rodas empenadas, e faltam em muitos o mais importante: vistorias. 

Serviço “péssimo” 
Além dos passageiros enfrentarem longas filas de espera, muitos encaram diariamente a tarefa de se acomodar em ônibus superlotados e sucateados. “O serviço está péssimo. A possibilidade de renovação é boa, anima. Mas se já começar com irregularidades não vai funcionar. São cadeiras quebradas, motoristas despreparados, são mal educados. Se chove, pinga dentro do ônibus. Muitos têm mais de 15 anos, nem deveriam rodar mais, mas a fiscalização deixa”, disse o representante comercial Alberto Bom Jardim, 46 anos, usuário da São José, uma das vencedoras da licitação. 

Horas de espera 
Estudante, Fabia Cardoso, 17 anos,   sofre com o atraso dos veículos. “Fico horas na parada esperando ônibus que deveriam passar de meia em meia hora. Já perdi vários compromissos por conta disso. É uma irresponsabilidade do governo com a população”, reclama. 

Para ela, caso haja irregularidade na licitação, nada vai mudar. “Os mesmos empresários vão mandar. E a gente, como fica?”, questiona. Diariamente, ela vai de Sobradinho a Santa Maria. Um percurso longo, que depende da pontualidade e agilidade do transporte. 

Fiscalização surpresa está suspensa 
 A explicação para a falta de fiscalização dos ônibus é simples: os auditores do DFTrans não podem fazer esse trabalho por determinação do órgão. Representantes da Associação dos Auditores Fiscais de Transportes do DF (Assefit) afirmaram que o próprio diretor da autarquia, Marco Antônio Campanella, travou as chamadas vistorias surpresas. A briga interna teria começado em 18 de março, quando ele exigiu detalhamento do trabalho dos fiscais. Segundo a Assefit, o documento que mostrava as atribuições do trimestre não foi bem recebido pelo secretário, que, na época, não assinou a continuidade das propostas. 

Agendamento 
O DFTrans informou, via e-mail, que aproximadamente 25 carros são vistoriados diariamente no pátio do órgão. O problema, segundo os auditores, é que esses veículos fiscalizados são os obrigatórios. Ou seja, aqueles que as empresas marcam data para avaliar. Já aquelas feitas nas garagens e terminais, sem aviso prévio, estão impedidas de acontecer há um mês. 

Hoje, 800 veículos rodam sem vistoria, segundo a associação. Revoltados, os fiscais recorreram ao Ministério Público para tentar resolver o impasse. 

Barulho 
Enquanto não há uma definição sobre isso, quem sofre é o usuário do sistema de transporte.  Passageiro das linhas da Viplan, Manoel Brandão 57, militar, reclama  do barulho excessivo dos motores. “Claramente, são veículos velhos”, reforçou. “A qualidade dos ônibus já é ruim. Quando o veículo está superlotado, então, fica insuportável”, completou.
  
Suposto  oligopólio 
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Penna, especialista em trânsito, o transporte público deve ser renovado, mas pensado de forma integradora e modernizada, o que não acontece agora. “O que vemos é a formação de um oligopólio, sem intenção nenhuma de mudar o cenário atual. Não houve transparência na licitação e nem haverá, porque é irregular”, alertou. Ele disse ainda que no governo Arruda, a mesma consultoria para o sistema de bacias foi feita. Ou seja, o atual governador, Agnelo Queiroz, pagou pelo mesmo serviço. 

As bacias 2 e 5, vencidas pela Viação Pioneira e Expresso São José, tiveram os contratos assinados em dezembro do ano passado. Pelas regras do suspeito edital, as duas empresas têm até o início de julho para colocar em circulação a nova frota. 

Suspensão 
Já as bacias 3 e 4 tiveram os contratos suspensos após uma decisão judicial.  O motivo é uma liminar  concedida  em favor do Consórcio Metropolitano e descumprida pelo GDF. A ordem   era que a Secretaria de Transportes abrisse as propostas da empresa, uma vez que o motivo alegado pela pasta para a retirada da Consórcio Metropolitano da disputa não seria juridicamente válido. O contrato de concessão que já havia sido assinado contemplava o consórcio HP-ITA, de Goiás, para operar a bacia 3, e a Auto Viação Marechal para  a bacia 4. O GDF alega que ainda não foi notificada da decisão.




Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br

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