A precariedade já é marca registrada do transporte público do Distrito Federal. Entretanto, para quem precisa esperar ônibus no fim de semana, a situação fica ainda mais crítica. Como a frota oferecida é bem menor do que durante a semana, os passageiros reclamam do longo tempo de espera. Para especialistas, esses problemas são consequência de uma mobilidade urbana ineficaz.
PROBLEMA É GERAL
O comerciante Juvenal Cardoso conhece bem o drama de quem depende do transporte público durante o fim de semana. Morador de Taguatinga, ele fala sobre a árdua batalha para pegar um ônibus. “Chego a ficar cerca de uma hora esperando a condução. Isso é um desrespeito com o cidadão”, disse. Ele destaca que para conseguir sair da parada de ônibus, muitas vezes é obrigado a optar pela ilegalidade. “Prefiro ir de
transporte pirata, é arriscado, mas ao menos não fico de molho na parada", protesta.
O conturbado cenário se alastra para diversos pontos do DF. Em Ceilândia, a situação é similar. Segundo a promotora de vendas Márcia de Souza, que utiliza o transporte público todos os dias, incluindo o fim de
semana, os horários dos ônibus causam desespero. “"Não fico menos de 40 minutos no ponto. Às vezes prefiro ir andando. Chego até mais rápido que o ônibus", diz. Para a moradora de Samambaia Norte, a educadora social Suzana Fernandes da Silva, os motoristas de ônibus não obedecem ao horário que está registrado no site do DFTrans. "A gente se programa para sair de casa no horário certo que ônibus vai passar, mas não é o que acontece, ainda sim passo uma hora e meia na parada. Quando vem são duas linhas iguais no mesmo momento, assim não adianta.
Quando não posso me atrasar vou andando até outra avenida para ter mais chances de pegar um ônibus",
ressalta. A secretária Jo Lopes também reclama. Ela trabalha aos sábados e pegar ônibus é um sofrimento.
“Quero chegar logo em casa, mas o transporte público não ajuda”, diz Indignação nas redes sociais O professor de inglês Daniel Vieira de Queiroz, morador de Taguatinga, também é vítima da falta de ônibus tanto na semana quanto no sábado e domingo. “Aqueles horários não são cumpridos. Já saí de casa achando que eles estavam certos, mas não condizem em nada com a prática. O itinerário é a mesma coisa”, destacou. Ele diz, ainda, que já viu várias vezes dois ônibus com o mesmo itinerário passando juntos depois de quase uma hora de espera. “Aí vão dois vazios e a demora se repete”, conta.
D E SA BA FO
Inconformados com o longo de tempo de espera na parade de ônibus, alguns passageiros utilizam inclusive, as redes sociais para reivindicar e clamar por mudanças. Na página @blogdoprotazio, um dos moderadores narra sua cansativa jornada de espera por um ônibus ontem, em Ceilândia. “45 minutos pra pegar um coletivo do Sesc em Ceilândia pra o Centro de Taguatinga, tive que pegar um pirata”, disse em seu post.
Em outra postagem, o mesmo usuário fala sobre a frustração que teve ao trazer um amigo para conhecer a cidade. “Trouxe um amigo de outro estado p conhecer a Ceilândia, prestigiar o S.J do Cerrado, mas o cara ta descrente com o nosso transporte público. Uma hora para pegar o coletivo”, argumentou em outra postagem.
Propaganda não condiz com realidade
Apesar de o governo anunciar que as mudanças estão ocorrendo e melhorando a vida de quem depende de transporte público, segundo passageiros, a propaganda não condiz com o cotidiano vivido pela população. Na opinião de Daniel Vieira, nos últimos anos, a situação tem se agravado. “Onde estão os ônibus novos tão explorados nas propagandas?”, indaga. Ele destaca a falta de interação do governo com a população. “Toda vez que uma linha é tirada ou um itinerário é modificado sem qualquer tipo de comunicação eficiente,
nos sentimos excluídos, esquecidos por aqueles que em seus discursos prezam tanto pela solidariedade”,
declara Daniel.
Segundo o professor, a ouvidoria do Governo do Distrito Federal não cumpre suas funções básicas. “A ouvidoria no telefone 156 não é eficaz quando a procuramos. Por essa razão, muitos já não recorrem mais a este serviço, pois estão sem esperança pelas reclamações sem resposta”, disse. O especialista em Transporte Flávio Augusto de Oliveira Passos Dias explica que a falta de ônibus no fim de semana é, infelizmente, esperada. “Sabemos que a demanda é menor. Se as pessoas acham que esperam durante a semana, imagina no fim de semana. O cidadão não tem confiança para marcar um compromisso e saber se vai chegar no horário certo”, afirmou.
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